quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Poema inacabado,


no comboio da noite viajo

sem saber cara a onde vai,
os pensamentos voam nos carris e no som
dum trem que sabe a nostalgia.
O ferro carril do passado ainda viaja por terras
desconhecidas e senlheiras
com uma cor que sabe a fume,
é o ar envolvente da realidade
que o sustém na geometria.

No comboio, viajo
e não viajo...
as horas solidificam-se
como magma seco
e expressam silêncio e tempo
num canto estranho e esquisito
o canto do pôr-do-sol no vigésimo estrondo

É no comboio da noite e sem estrelas
onde ouço a voz da lua
no trigésimo nono ano de luz
que me abrange com a amplitude dum sorriso.

No comboio viajo, talvez, não viajo.

Publicado na revista Elipse número 4 de Círculo Edições

sábado, 2 de agosto de 2014

Do diário íntimo de Parker & Barrow (III)

Ruído de fundo, distorções gaussianas
fora vai frio mas não chove.
Meu amor!
Mas as rulas cantarão
um blues de reanimação, um
RCP no novo ano
Para que podas levar as tuas esperanças
em cadeiras de rodas
vestidas com pele de guepardo
nas noites infindas
e sinalaremos num mundo
cheio de borboletas azuis
porque o azul precede-nos
o planeta disque é azul
se calhar como o sangue de aristocratas doutro tempo.
Full de reis e ases,
de abondo para continuar no jogo,
no jogo dos beijos
e de fluidos sexuais.
Perdemos toxinas suficientes
Para continuar lutando
enquanto uma cacatua
chisca um olho através duma janela
e sorri.

Poema de Alexandre Insua e rosanegra.
Publicado na revista Elipse nº3 de Círculo Edições.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Do diário íntimo de Parker & Barrow

Rematou o temporal
e abriu o céu para
mostrar nuvens brancas.
As raiolas lambem eroticamente
as montanhas
e uma bandada de pegas furiosas
assalta um banco.
Decidem fuzila-las por rebeldes,
mas não podem.
Desobediência civil.

Beija-me, meu amor, nesta tarde solhada
um blues substitui os cantos de reis
e a impunidade fica freada.
Ainda podemos sentir asas nos pés
mentres posamos para fotografias da ficha policial.
a vingança também nos corresponde
em nós reside a soberania.

Temos o direito a sermos ressarcidos:
a beber em cuncas douradas
e provar o mel portuário
como barcos que sonham
com navegar até o sol-pôr,
e deixarem-se cair pela beira do mundo,
longe de monstros marinhos,
onde Jules Verne escreve versos passados
e futuros, dentro dum foguete
e, com as beições do capitão Nemo,
ir além da lua.


rosanegra e Alexandre Insua (Impostura de fumador)

domingo, 23 de fevereiro de 2014

A RODA IMORREDOIRA

foto de Carlos Silva em munditações


A imagem geométrica, forma uma circunferência
da cor do vinho com arrecendo a traça
É um passado-presente com um sentido que xorde
num isolamento silandeiro na voz do ar
Na madeira errante, escreveu-se a historia
da noite e do amanhecer, com letras perenes
nas árvores genealógicas
Pousada na pedra ainda resoa o som do carro
entre os caminhos, aquelas sendas da nenez
já perdidas no antonte
E roda na memória um filme antigo
cor sépia, e chove um mar com doze invernos
num zigzag temporal
A foto escacha em 100.000 partículas
redondas, figuras dum fotograma
que se nega a desaparecer...

Publicado na revista Elipse nº2 de Círculo Edições